terça-feira, 28 de outubro de 2008

Brian

Acho muito engraçado o jeito que a gente faz amizades. E como a gente cria laços com as pessoas. Sempre me lembro de um episódio do Seinfeld que ele dizia que não era mais criança para fazer novos amigos tão facilmente, porque quando você é criança, um pergunta pro outro, “você gosta de bala?”, “eu também”, “somos os melhores amigos”. E a vida adulta não é bem assim. Pra ele. Eu continuo gostando de bala.


Até concordo que uma amizade bacana não é fácil mesmo. Eu mesma sempre digo que as amizades não são eternas, mas uma boa companhia é essencial. Gosto dessa frase, e gosto mais ainda das boas companhias. Tenho amigos, queridos e próximos, há mais de quinze anos. E claro que quero que seja eterno. Mas só se for legal de verdade. A partir do momento que as coisas não estão funcionando bem, é melhor deixar pra lá. Como tudo na vida.


Descobri que o 2.0 não está matando a minha vida social, mas sim globalizando. Os tempos mudaram e a tecnologia te permite tomar uma cerveja com qualquer pessoa do mundo em tempo real. E olhando pra cara dela, através de uma web cam. E foi numa dessas pesquisas sociais que eu conheci o Brian. Que no começo não era Brian, era ottoparts e eu não era Rita, era rad.


Brian estava calmamente sentado em seu escritório, trabalhando e sendo visto pelo mundo. Ainda não entendi como um virginiano pode ser tão tranqüilo com exposição pública, mas lá estava ele. Tranqüilo, trabalhando e com as costeletas mais radicais do mundo virtual. Irresistível. Não tinha como não elogiar. E assim eu conheci o Brian. Que mora em Denver, no Colorado, perto do hotel que foi filmado O Iluminado. É casado com a Aileen, que é veterinária e tem um cachorro e um gato.


E apesar de estarmos em continentes diferentes, falarmos línguas diferentes, lá ser outono e aqui primavera, e lidarmos com um fuso horário maluco, com uma janela de quatro horas (quando aqui é meio-dia, lá é oito da manhã), a gente tem conseguido se comunicar. E tem descoberto que temos mais coisas em comum que muita gente que eu vejo todo dia. Pessoalmente, claro. Porque eu também vejo o Brian, pixelizado, mas é ele. E a gente fala da vida e ouve música junto. E briga por causa de baseball. E compartilha fotos e sonhos. E dá muita risada.


É possível que isso dure um mês ou dois. É possível que cada um mude seu ritmo de vida e a gente passe a trocar e-mails esparsos só pra constar. É possível que a gente descubra que não tem mais nada pra falar e fique apenas naqueles silêncios constrangedores. Mas, quantas vezes isso já não aconteceu na vida real? E o pior é que você tem que ficar mirabolando planos para não encontrar mais aquela pessoa. Aqui, é só desligar o msn. E mesmo que isso aconteça, o Brian já marcou um ponto. Já virou um conto.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Bianca

Ontem à noite eu fiz a maior estupidez da minha vida. Perdi meia hora assistindo aquela novela da Record, aquela dos mutantes. Jesus! Eu quero minha meia hora de volta! Acho que eu nunca vi nada tão péssimo. Até os efeitos especiais do aerolito do Chaves eram melhores. Pelo menos era mais divertido de assistir.


E eu não me conformo como a grande maioria dos atores brasileiros de tevê são ruins. É uma coleção de cigano Igor, que quem é bom parece que fica com medo de atuar direito. Calma, não me crucifiquem, estou falando dessa novela, por enquanto. Você consegue imaginar uma novela que o ator mais convincente é o Taumaturgo Ferreira? E por que tudo tem que ser muito bem explicadinho, nos mínimos detalhes? Se a menina está com medo, não deveria ter uma voz em off, como se fosse o pensamento dela, dizendo “eu estou ficando com medo”. Atue, criatura! Essa é a sua profissão! Mostre pra gente que você está com medo!


Tudo bem, vocês vão falar que a televisão não é parâmetro, que os bons atores estão no teatro e tal. É, mais ou menos. Vamos combinar que quem nasceu pra coisa, vai ser bom em qualquer mídia. E quem não... Isso na Globo, em Hollywood, Bollywood, cinema noir e o escambau. Adoro o seriado Gilmore Girls, confesso meu guilty pleasure, mas aquela menina que fez a Rory é de doer! O roteiro era fantástico e a Lauren Graham roubava as cenas, então valia a pena. E quem consegue ver a Sarah Michelle Gellar, aquela da Buffy? E o Freddie Prinze Jr.? Eu assisto as coisas que ele faz porque acho ele fofo, aliás eles são um casal. Perfeito, não?


Mas pior mesmo que falta de expressão é aquele povo que vive atuando. Cada gesto, cada passo, cada palavra é uma epopéia. Cada movimento parece ter sido ensaiado e saído de um seriado ruim. A Bianca é assim. Não posso dizer que ela é minha amiga porque a gente nunca chegou a tanto. Na verdade ela é amiga da Vanessa, essa sim é uma querida. Mas a Vanessa é outro conto.


A Bianca conta pra todo mundo que nasceu no palco. Quase que literalmente. Sua mãe também é atriz e estava no meio da peça quando a sua bolsa estourou. Mas ela não parou. Tudo pela arte. Agüentou firme os dez minutos que faltavam para acabar a peça. Só então foi para o hospital e Bianca nasceu. Miudinha, mas seu choro ecoava pelos quatro cantos. Já nasceu drama queen.


E desde então Bianca não vive, ela atua. Quando criança era aquela mimadinha que se não conseguia tudo o que queria se jogava no chão e chorava, fazendo aquele escândalo, pra todo mundo ver. Sua mãe nunca lhe reprimiu. “Ela tem que aprender a fazer suas escolhas errando”. Sempre liderava as brincadeiras e distribuía o papel de cada um, mas adivinha de quem era o principal?


Naturalmente Bianca cresceu e virou atriz. Não podia ser diferente. O único problema é que ela é péssima. Não sou treinada pra ser crítica teatral, aliás não entendo muita coisa, mas sei do que eu gosto. Tenho um nível cultural aceitável para poder opinar sobre algumas coisinhas. E ela é péssima. Essa semana estreou a nova peça dela. Não somos amigas, mas sempre recebo um e-mail com convite. Ficando em casa eu pelo menos posso mudar de canal e assistir o Heroes original ou até mesmo uma reprise do X-Men. Estou preferindo até Power Rangers ou o aerolito do Chaves.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Vivi e Paulinho

Acabei de receber um convite para uma festa de Halloween. Vai ser na casa da Vivi e do Paulinho na sexta-feira dia 31. Fantasias obrigatórias, favor colaborar com as bebidas, maratona de filmes de terror. Convitinho bacana, bem feito, design legal, me deu até vontade de ir, de tirar aquela velha capa de vampira do armário. E encarar a 25 de março atrás de uma dentadura nova.

A Vivi e o Paulinho sempre curtiram essa história de vampiro, de ser gótico, usar preto. Já namoraram no cemitério, fizeram reuniões para evocar os espíritos e gastam a maior grana com brinquedinhos do mal. Acho super bacana, principalmente porque eles sempre foram fiéis a essa identidade. Nunca tentaram mudar e nunca se importaram com a opinião alheia. A casa deles é ótima, paredes pretas, paredes vermelhas, paredes brancas com teias de aranha pintadas. Muitas caveiras, muitas abóboras, um pôster maravilhoso do “Estranho Mundo de Jack”, que eu sempre quis um igual. Isso é no dia a dia, imagina a decoração pra festa.

Lembro de uma vez que eles brigaram feio. A Vivi ficou puta porque o Paulinho tinha beijado outra menina no show do Marilyn Manson, que ela não pôde ir porque estava trabalhando. Arrumou a mala e foi pra Londres (pra onde mais ela iria, não?) ficar na casa de uns amigos. Acho que eu nunca vi o Paulinho tão desesperado na vida. Ligava quase todo dia, mas ela não queria falar com ele de jeito nenhum. Conseguiu uma licença do trabalho e foi atrás dela uma semana depois.

Achei que esse namoro ia pro vinagre quando recebi a notícia pela Roberta. “Sabia que a Vivi e o Paulinho voltaram? Resolveram morar lá em Londres por uns tempos”. E “uns tempos” significou três anos. A gente se falava quase toda noite pelo ICQ e a Vivi me disse que resolveu perdoar o Paulinho porque assim que ela chegou lá, sozinha, deprimida e sem um pound no bolso, acabou ficando com o Mike, um conhecido nosso que tinha vindo ao Brasil pra passear um ano antes. Perdoou por culpa.

Mas se o tempo não apaga as marcas, pelo menos ameniza. E a Vivi e o Paulinho nunca mais se separaram depois dessa empreitada internacional. Quando voltaram pro Brasil, trouxeram vários presentes pros amigos. Eu ganhei um batom preto. Que eu tenho até hoje. Praticamente intacto porque eu só uso uma vez por ano, na festa de Halloween deles, no sobradinho do Butantã. E eu que queria tanto o pôster do “Estranho Mundo de Jack”.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Junior

Estava eu fuçando a vida alheia pelo orkut, quando tive uma vontade incontrolável de dar uma espiadinha no perfil do Junior. Ele foi “tipo meu namoradinho” na época do cursinho. Na verdade a gente nunca namorou, mas a expressão “fuck buddy” tem uma tradução muito feia. Passamos o ano de 94 inteiro “se pegando”. Se eu brigava com algum pretê, ligava pra ele. Se ele tava se sentindo solitário, me ligava. O mais legal é que a gente também conversava, ia ao cinema, jantava, tomava cerveja, mas só os amigos mais próximos sabiam o que rolava entre a gente. Era meio segredinho, o que tornava tudo mais gostoso.

E hoje, sabe-se lá por quê, eu lembrei do Junior e quis saber como ele estava. Primeiro fiquei chocada ao saber que ele virou advogado. Sabe aqueles meninos meio hippies fefeléche? Esse era o Junior. Petista, mas nascido e criado no leite A. Cabelão, mas bem lavado e cheiroso. Sandália de couro, mas Birkenstock. Achava que ia mudar o mundo e eu adorava sua inocência porque eu realmente acreditava que ele era capaz. E me deixava levar por aqueles olhos verdes enquanto ele enchia meu copo de cerveja e acendia mais um cigarro.

Lembro uma noite que a gente foi parar numa “festa estranha com gente esquisita” no apartamento de um menino da biológicas. Eu só queria tomar uma cerveja e ter alguém pra dormir abraçada, mas ele insistiu. “Vamos lá, o cara é bacana. A gente toma uma e vai embora”. E mais uma vez eu me deixei levar pelo sorriso manso e os olhos verdes. Quando a gente chegou na porta do prédio, na Vila Madalena, eu pressenti que aquilo não ia acabar bem. Mas a gente já tava lá, né?

Entramos. A cena era a seguinte: cinco rapazes numa sala totalmente encoberta por uma nuvem de maconha, rodeados por 467 latas de cerveja vazias ouvindo Judas Priest no último. Momento de pânico. “Que porra é essa?”, perguntei baixinho pro Junior, mas ele já estava cumprimentando os rapazes e acendendo uma ponta. Virei na direção do elevador, mas lembrei que o carro era dele e eu não tinha como voltar pra casa. E que, como eu ia dormir na casa dele, já tinha deixado minhas coisas por lá. Mais um momento de pânico.

Abanei a cabeça murmurando um oi e sentei numa cadeira no canto. A cerveja gelada tinha acabado, eu tinha três Marlboros no maço e era a única menina entre arrotos e um pornô tosco na tevê. Três horas depois, três Marlboros depois, duas latinhas de Skol quentes depois, e cinco repeats no CD “Painkiller” depois, o Junior achou que já era tarde e nós fomos embora. Naquela noite eu disse que estava com uma dor de cabeça terrível por causa da cerveja quente. E foi a última vez que a gente se viu.

Hoje descobri que além de advogado, o Junior ficou careca, engordou o suficiente para acabar com qualquer fantasia sobre homens de terno que você possa ter, está separado e tem duas filhas. Ah, e faz parte da comunidade “Eu admiro o Opus Dei”, “Eu amo armas de fogo” e, claro, “My son’ll listen Judas Priest!”.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Roberta

Ontem à noite a Roberta me ligou. A gente não se falava há meses. A Roberta é aquelas amigas que a gente faz por acaso, na fila do cinema. Mais precisamente na fila do anexo do Unibanco pra ver Gabeh, filme iraniano, isso por volta de 1997. Eu já tinha comprado dois ingressos, esperando a Patrícia chegar, em cima da hora como sempre, e não conseguia parar de olhar pra porta do cinema. O filme estava sendo super comentado, então a fila estava grande e já não tinha mais ingresso, afinal era a última sessão de quarta-feira e todo mundo queria pagar meia entrada.

Enquanto eu estava distraída, xingando até a décima quinta geração da Patrícia, porque naquela época a gente não tinha celular, então tinha que marcar o encontro do telefone de casa, ir pro lugar marcado e esperar, alguém encostou a mão no meu braço e disse oi. Voltei pra realidade num tombo. Não gosto de ser tocada por quem eu não conheço, tenho “povofobia”, mas com a Roberta é assim. Ela só fala com você olhando no olho e segurando seu braço, sua mão, tirando o cabelo da sua cara, fazendo um carinho. Mas naquele momento eu não sabia quem era a Roberta e fiquei muito irritada.

“Você tá esperando alguém, né?”, ela me perguntou. “Tô. E ela tá atrasada, como sempre”, respondi. “Eu não consegui comprar ingresso. Se sua amiga não vier, você me vende o dela?”. E foi assim que Roberta caiu na minha vida. Nos apresentamos, ficamos conversando na fila, sentamos juntas e fomos tomar um lanche depois do filme, lá no Frevo. Ela era encantadora, doce, inteligente. Uma ótima aquisição para o rol das amizades. Saímos juntas várias vezes para dançar, beber e jogar conversa fora, durante anos. Agora a gente se vê muito pouco. A vida muda e as responsabilidades nos levam para outros caminhos. Mas ontem ela me ligou.

Depois das amenidades de “que saudade” e “como tá a vida”, veio o convite. “Vamos na Mostra amanhã?”. Fiquei em transe por alguns segundos, tico e teco enlouquecidos, tentando entender o que ela tinha me falado. Mostra? Putz! Tá tendo Mostra Internacional de Cinema. Respondi que não sabia, fazia tanto tempo que eu não ia ao cinema. E ela, “eu também, tem umas três semanas que não vejo nada, estou morrendo!”. Três semanas? Como eu conto pra essa criatura que eu não vou ao cinema há cinco anos, pelo menos? “Ver o que?”, respondi pra ganhar tempo e pensar numa boa desculpa. E aí Roberta desatou a falar do tal filme “The Photograph”, que é sobre um fotógrafo e uma menina que vira sua pupila, que ela não conseguiu pensar em ninguém que fosse gostar desse filme mais do que eu, e que estava passando no Unibanco. “Tenho que resolver algumas coisas, mas te ligo amanhã pra confirmar, okay?”.

Fato número 1: eu não vou cinema há cinco anos, pelo menos, porque a cada ano que passa, eu fico mais parecida com o Jack Nicholson no “Melhor é Impossível”, já até admiti que eu tenho TOC. O cinema pode estar vazio, o primeiro casal que entrar, vai sentar atrás de mim e falar o filme inteiro. Ou então, vão sentar na minha frente e ficar se amassando o filme inteiro. De uma forma ou de outra, eu não vou conseguir me concentrar, ficar irritada e me arrepender de não ter esperado sair em DVD.

Fato número 2: dez anos se passaram desde que eu freqüentava o Unibanco. Agora eu estou mais velha, mais chata, menos paciente com pessoas pseudo-intelectuais que vão ao cinema com um livro do Karl Marx debaixo do braço. Ah, vermelho? Só na bota e no batom, não na política.

Fato número 3: o último filme que vi numa Mostra foi “Corra, Lola, Corra”, ainda no século 20.

Fato número 4: o filme que a Roberta quer ver parece ter um enredo interessante e eu realmente posso gostar. Mas ele é indonésio. Não que eu só veja filmes hollywoodianos, mas se nada acontece em mais de cinco minutos de filme, eu durmo. Logo depois que a Roberta desligou vi que estava passando “Sonhos”, do Akira Kurosawa na TV a cabo e pensei que seria um bom estímulo pra eu ver um filme de arte. Passei pela infância com muito custo, mas não sobrevivi às memórias da guerra. Dormi durante todos os outros seis capítulos.

Acabei de ligar pra ela inventando uma reunião com cliente, e fiquei devendo uma cerveja. Vou passar a noite vendo o sexto episódio da terceira temporada de Heroes, que eu baixei essa madrugada. O 2.0 está matando minha vida social...

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Rafael e Fernanda

Rafael e Fernanda se conheceram no final da década de 90 no Borracharia. Se você não possui essa memória, o Borracharia era um barzinho bem legal, lá na Vila Madalena, onde o pessoal “indie” da época se encontrava. Lá você podia sentar nas mesinhas do lado de fora, bem na entrada, e discutir sobre o último episódio de Friends, encostar no balcão e pedir pro Tchelo (que ainda era garçom) uma Niger, (que a Antártica ainda fabricava) ou podia subir as escadas e dançar ao som de “There’s No Other Way” do Blur ou “Hyperballad” da Bjork.

De qualquer forma, Rafael e Fernanda se conheceram lá. Culpa do Adriano, amigo em comum, que resolveu chamar todo mundo pra uma festa de aniversário. Logo que foram apresentados, Fernanda não foi muito com a cara dele. Rafael era moreno, ela gostava de loiros. Rafael era descendente de nordestinos, ela queria morar em Londres. Rafael não falava inglês, ela achava isso inadmissível na nossa sociedade cada vez mais globalizada. Rafael era menino, ela achava que talvez fosse lésbica.

Rafael também não demonstrou o menor interesse por Fernanda. Na verdade, eu me lembro que ele usou as palavras “metida a gringa” e “se acha muito moderna” para descrevê-la. Apesar de ter ficado um pouco curioso sobre onde terminaria a tatuagem de dragão que ele via começando no ombro e descendo pelas costas. E pelos olhos azuis na pele branca, contrastando com o cabelo curto e preto. Okay, Rafael não demonstrou o menor interesse pela cabeça de Fernanda, mas definitivamente não a chutaria da cama.

Já passava das três da manhã quando eles se esbarraram na pista de dança. Ela estava super agitada, com seu drink azul na mão (alguma coisa feita à base de blue curaçao que ela passaria a manhã seguinte a vomitar), tentando paquerar aquela menina “super fofa, que parecia uma bonequinha”, amiga de alguém e que estava sozinha porque a namorada tinha ido pra Londres. Aliás, é impressionante como todo mundo ia pra Londres nessa época. Ele só tinha tomado cerveja, praticamente todas, e já não conseguia ver nada em foco. A não ser aquele par de olhos azuis, com a bebida azul.

Quando Fernanda reparou em Rafael e seus olhos se encontraram, o dj colocou Eurythmics, “There’s Must Be An Angel”. Dadarudadarurá, dada, dada... Fernanda descreve a cena como “butterflies in my stomach”. Rafael não consegue lembrar de nada, só do gosto da boca dela, do cheiro do seu cabelo. Cena de filme, todas as pessoas haviam desaparecido e durante os quatro minutos e quarenta e três segundos da voz da Annie Lennox eles dançaram, beijaram e se apaixonaram. Naquele momento Fernanda não queria estar em Londres, Rafael não se importava com a prepotência dela. Tudo o que importava era que aquela música nunca acabasse, e que talvez tivesse um anjo brincando com corações.

Hoje, Fernanda e Rafael moram num apartamento super bacana nas Pedizes, mas esse ano não vão passar as festas em Londres, já que depois de dez anos juntos, eles decidiram ser três. E Annie pode nascer a qualquer momento...