quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Junior

Estava eu fuçando a vida alheia pelo orkut, quando tive uma vontade incontrolável de dar uma espiadinha no perfil do Junior. Ele foi “tipo meu namoradinho” na época do cursinho. Na verdade a gente nunca namorou, mas a expressão “fuck buddy” tem uma tradução muito feia. Passamos o ano de 94 inteiro “se pegando”. Se eu brigava com algum pretê, ligava pra ele. Se ele tava se sentindo solitário, me ligava. O mais legal é que a gente também conversava, ia ao cinema, jantava, tomava cerveja, mas só os amigos mais próximos sabiam o que rolava entre a gente. Era meio segredinho, o que tornava tudo mais gostoso.

E hoje, sabe-se lá por quê, eu lembrei do Junior e quis saber como ele estava. Primeiro fiquei chocada ao saber que ele virou advogado. Sabe aqueles meninos meio hippies fefeléche? Esse era o Junior. Petista, mas nascido e criado no leite A. Cabelão, mas bem lavado e cheiroso. Sandália de couro, mas Birkenstock. Achava que ia mudar o mundo e eu adorava sua inocência porque eu realmente acreditava que ele era capaz. E me deixava levar por aqueles olhos verdes enquanto ele enchia meu copo de cerveja e acendia mais um cigarro.

Lembro uma noite que a gente foi parar numa “festa estranha com gente esquisita” no apartamento de um menino da biológicas. Eu só queria tomar uma cerveja e ter alguém pra dormir abraçada, mas ele insistiu. “Vamos lá, o cara é bacana. A gente toma uma e vai embora”. E mais uma vez eu me deixei levar pelo sorriso manso e os olhos verdes. Quando a gente chegou na porta do prédio, na Vila Madalena, eu pressenti que aquilo não ia acabar bem. Mas a gente já tava lá, né?

Entramos. A cena era a seguinte: cinco rapazes numa sala totalmente encoberta por uma nuvem de maconha, rodeados por 467 latas de cerveja vazias ouvindo Judas Priest no último. Momento de pânico. “Que porra é essa?”, perguntei baixinho pro Junior, mas ele já estava cumprimentando os rapazes e acendendo uma ponta. Virei na direção do elevador, mas lembrei que o carro era dele e eu não tinha como voltar pra casa. E que, como eu ia dormir na casa dele, já tinha deixado minhas coisas por lá. Mais um momento de pânico.

Abanei a cabeça murmurando um oi e sentei numa cadeira no canto. A cerveja gelada tinha acabado, eu tinha três Marlboros no maço e era a única menina entre arrotos e um pornô tosco na tevê. Três horas depois, três Marlboros depois, duas latinhas de Skol quentes depois, e cinco repeats no CD “Painkiller” depois, o Junior achou que já era tarde e nós fomos embora. Naquela noite eu disse que estava com uma dor de cabeça terrível por causa da cerveja quente. E foi a última vez que a gente se viu.

Hoje descobri que além de advogado, o Junior ficou careca, engordou o suficiente para acabar com qualquer fantasia sobre homens de terno que você possa ter, está separado e tem duas filhas. Ah, e faz parte da comunidade “Eu admiro o Opus Dei”, “Eu amo armas de fogo” e, claro, “My son’ll listen Judas Priest!”.

2 comentários:

Madalena Leles disse...

Hahahhahahahaha, adorei o novelão. É... o tempo passa, as pessoas mudam.

Unknown disse...

Nossa essa foi muito engraçada..
logo se vê que é verdadeira....
kkkk