terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Top 5 - 2

Os 5 filmes que marcaram minha vida:

5. Stand By Me
No Brasil foi traduzido como Conta Comigo e você já deve ter visto na sessão da tarde. É a história de quatro amigos que viajam pela linha do trem para ver o corpo de um menino morto. Tem o River Phoenix novinho e o Kiefer Sutherland muito antes de se imaginar como Jack Bauer. É uma história linda de amizade e eu sempre choro no final. Sem contar que a trilha sonora é uma delícia. E a música do título é a minha música com o marido.

4. Pulp Fiction
Eu tava na faculdade quando o mundo ouviu falar pela primeira vez em Quentin Tarantino. E foi amor à primeira vista! Que dura até hoje. Quem mais nesse mundo seria insandecido o suficiente para acreditar na ressureição de John Travolta? E fazer um filme tão violento e sem linearidade? Só podia ser um gênio! Confesso que Pulp Fiction não é meu filme preferido dele, mas foi a porta aberta para o incrível mundo de Tarantino.

3. The Shining
Eu passei muitos anos da minha vida tendo medo do Jack Nicholson. Até ele começar a fazer aquelas comédias românticas, eu não conseguia olhar pra cara dele direito. Tudo culpa do Iluminado. Li o livro primeiro, e assim como o Joey do Friends, tinha vontade de colocar no freezer cada vez que lia REDRUM. Pra mim, esse filme é uma obra prima de dois mestres, Stephen King e Stanley Kubrick. Até hoje tenho problemas com gêmeos, não me sinto à vontade. E sempre que eu estou estressada por causa de trabalho lembro da frase: "All work and no play makes Jack a dull boy". Um dia eu surto. Igual ele.

2. Clockwork Orange
Eu ainda era pré-adolescente quando vi esse filme pela primeira vez. E fiquei tão impressionada que passei muitos anos da minha vida revendo. Até que um dia minha mãe cansou de ir na locadora comigo pra pegar o mesmo filme e me comprou o VHS. É um filme difícil, mas clássico! Se você gosta de Tarantino, é obrigatório. Garanto que você nunca mais ouvir Beethoven da mesma maneira.

1. Lost in Translation
Porque o Japão é lindo. A Scarlett Johansson é linda. E você também torceu pra que ela e o Bill Murray ficassem juntos de alguma forma no final. E como eu disse no último post, estou completamente obcecada por esse filme. Sofia Coppola é minha nova ídola!

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Top 5 - 1

Em um momento Alta Fidelidade, apresento as 5 músicas que mais mexem comigo atualmente:

5. Baby Now - Nichole Alden
Provavelmente uma das músicas mais sexy dos últimos tempos. Nichole Alden foi descoberta através do myspace e essa música virou tema da propaganda do Peugeout 407. Ela é uma fofa e super talentosa. E essa música é um arraso! O trechinho mais marcante: "Am I lost? Have we pushed this too far? Lost into experience... Now I don't know where home is, baby". E dá-lhe repeat!
http://www.youtube.com/watch?v=PL4fXTIrEb0

4. Too Young - Phoenix
Como disse um amigo meu, "eu não sei porque, mas essa música simplesmente me deixa feliz". E ele tem toda razão. É uma música que deixa feliz. Não conheço mais nada da banda, aliás conheci essa música por causa da trilha sonora do Lost in Translation. E toda vez que eu escuto Too Young lembro desse meu amigo, e também fico feliz.
http://www.youtube.com/watch?v=-PUfsmJQrXY

3. Enjoy The Silence - Depeche Mode
"All I ever wanted, all I ever needed is here in my arms. Words are very unnecessary. They can only do harm". Ponto.
http://www.youtube.com/watch?v=F9jLLXbKbJQ

2. Just Like Honey - Jesus and Mary Chain
É uma declaração de amor como só os góticos dos anos 80 eram capazes de fazer. E é sexy pra caramba! E, adivinha? Também é da trilha sonora do Lost in Translation. Esse filme virou uma obsessão pra mim. Não passo um dia sem ouvir as músicas, ver os clips... Nota mental: pedir o DVD de Natal!
http://www.youtube.com/watch?v=q3gbsTpqMZE

1. Close to Me - The Cure
Primeiro, é The Cure. Segundo, é The Cure. E, finalmente, é The Cure.
http://www.youtube.com/watch?v=-d4-pDw_dHw

terça-feira, 25 de novembro de 2008

A Mulher de 30 e Poucos

Nunca li Balzac. Confesso que tentei algumas vezes, mas sempre aparecia outra coisa mais legal. Comecei a tentar por volta dos 28 anos, para me preparar para ser uma mulher de 30. Achei que para chegar a essa idade precisaria de algum ritual especial, afinal é uma data importante. Pensei em ficar na frente do espelho à meia-noite, vendo se alguma mudança mágica seria perceptível. Igual aquele episódio do Mad About You. E pra te falar a verdade, eu não lembro como foi fazer 30 anos. Se bobear, eu até fiz isso...

A cada ano que passa eu travo uma luta comigo. Demoro horrores para aceitar um ano a mais. Fico inventando ritos de passagem, resoluções para o próximo ano (fico pior que no ano novo), surto querendo comprar cremes anti-rugas. E a cada ano, o aniversário chega, o ano conta mais um, e nada realmente muda. Eu continuo fazendo as mesmas coisas, gostando das mesmas coisas. Basicamente sendo eu mesma.

Esse ano a loucura veio em forma de auto-retrato. O que de certa forma é ótimo, já que eu acabo transformando insanidade em arte. Anyway, acho que eu fiz mais fotos nesses últimos dias do que na minha vida inteira. Uma obsessão louca com a estética, coisa que eu nunca tive. Uma necessidade de auto preservação. Uma consciência terrível de que o tempo está passando.

E sem comentários de que eu continuo igual. Por dentro eu sei que continuo igual. Continuo vendo todos os seriados. Continuo adorando video game. Continuo querendo sair pra balada. Continuo gostando de menino mais novos (e de preferência cabeludos). Continuo ouvindo rock and roll. Mas, por fora, a coisa já não é mais a mesma. Parece que aquele vigor, aquele brilho está, aos poucos, sumindo. E o que fazer para mantê-lo? Agora ficou mais claro o porque do post anterior?

E toda vez que eu entro nessa neura de ficar mais velha eu penso em pegar aquele Balzac empoeirado que está lá na estante amarelando. E toda vez eu paro enfrente à estante, olho para todas as lombadas e deixo o Balzac pra lá. Dessa vez eu escolhi o Coisas Frágeis do Neil Gaiman. Ser uma balzaquiana já é o suficiente. Não preciso de um livro chato. Ah, e eu estou fazendo 33.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Sem Anestesia

Todo mundo quer ficar bonito e ninguém quer envelhecer. Você já pensou o que essa frase está fazendo com a cabeça das pessoas hoje em dia? A perfeição plástica parece ser mais procurada do que sucesso, fama e dinheiro - coisas que dez entre dez aspirantes a celebridades sempre tiveram no topo de suas listas de desejos. Rosto lindo e iluminado, corpo enxuto e sarado e, claro, um gatinho ou uma gatinha quinze anos mais novo (a) é a febre do momento.

E como conseguir esse semblante de diva? Fácil! Basta você fazer a dieta daquela apresentadora, aquela que você só come barras de cereal e sopa por sete dias, e ela garante que você não vai ficar doente e vai ficar com o corpinho igual ao dela. Mas, cuidado, leia as letrinhas miúdas, não faça a dieta por mais de sete dias seguidos, senão ela já não garante mais nada. Seu problema não é o peso, mas a flacidez? Sem problemas! É só você comprar aquele super aparelho de abdominais, fazendo apenas apenas três minutos por dia você fica com o corpo sarado, igualzinho ao dos modelos da propaganda. Mas não ligue agora, você ainda pode ganhar um gel contra estrias e celulite! Viu como é fácil? Basta ter dinheiro, um telefone e muita ingenuidade!


As coisas saíram de controle de uma forma tal, que até um creme anti-rugas que promete alterar seu DNA já foi inventado. Qual o problema de envelhecer? Por que as pessoas odeiam tanto as suas rugas? Eu sei que essa é uma frase banal, mas elas realmente contam sua história. Cada ruga no seu rosto é um momento vivido, sofrido, ultrapassado. Elas servem pra te lembrar quem você é. Pra você não se perder achando que ainda tem dezoito anos, com um carro esporte, careca aparente e rabo de cavalo. Todo mundo passa por fases na vida e elas devem ser bem vividas.

Mas, se suas rugas realmente te incomodam, você pode recorrer às cirurgias plásticas, ao botox e outras intervenções que vâo combinar seu exterior ao seu interior. Afinal de contas, o que é uma toxina botulínica na testa ou um siliconezinho pra ficar com o bocão da Angelina Jolie? E isso é só o começo. Aquele culote que fica um horror na sua calça nova da Diesel vai embora numa lipo. Seu peitinho fica tão sem graça naquele top da Glória Coelho? Silicone! 250ml de cada lado devem bastar. Sem contar as outras tantas coisas que você pode mexer: arrebitar o nariz, tirar as bolsas debaixo dos olhos, levantar as sobrancelhas, esculpir a barriga, colocar bumbum e batata da perna... Ufa! Assim, qualquer uma vira diva!

Você não tem dinheiro pra tudo isso? Tudo bem, pelo menos no mundo virtual você pode ser maravilhosa. Como? Photoshop. Esse programa maravilhoso que faz todas as mulheres serem perfeitas e posarem peladas por aí. E os homens acreditarem que ela são assim de verdade e comprarem cada vez mais essas revistas. Aí, é só você colocar sua foto de modelo-anoréxica-numa-pose-sensual-com-pouca-roupa no orkut e esperar os milhões de babões que vão te deixar mensagens. Não acredita? Faça o teste, eu garanto.

Retocar fotografias não é coisa moderna. O grande fotógrafo George Hurrell, que clicou as maiores estrelas do cinema americano nas décadas de 30 e 40, já sabia como transformá-las em divas. Aliás, eram suas fotografias que as colocavam no pedestal. Não que Rita Hayworth, Greta Garbo ou Bettie Davis fossem feias, mas com a ajuda de Hurrell e seu retoque mágico... Explico. Hurrell foi um mestre da iluminação e conseguia trazer charme, glamour e elegância onde nada existia. Obsessivo e perfeccionista na arte da ilusão, Hurrell retocava a exaustão os negativos para eliminar imperfeições dos rostos e corpos das grandes estrelas.

Cada negativo era retocado e trabalhado com pó de grafite, retirando defeitos e linhas indesejadas. O resultado era uma transformação fotográfica feita por um pintor, que sabe, melhor do que ninguém, extrair refinamento e beleza de seus modelos; sua luz interna.

Desde que o mundo é mundo, as pessoas querem ser mais bonitas. Homens e mulheres, vamos deixar bem claro. Mas, o que é ser bonito? Beleza é uma convenção da sociedade. Na era renascentista, as belas mulheres pintadas pelos mestres mostravam a perfeição dos corpos. Corpos esses saudáveis e um pouco roliços.

Mesmo as divas do cinema, clicadas por Hurrell, nos mostram um padrão de beleza completamente diferente do que vemos hoje em dia. Nas décadas de 30 e 40, quanto mais largo o quadril, mais bela. A famosa cinturinha de pilão. Jean Harlow e Jane Russell são os melhores exemplos. E o que dizer das lindas modelos de Fernando Botero? Gordinhas e simpáticas, tomaram a década de 50 e 60 em pinturas e esculturas ao redor do mundo. Até sua própria Monalisa ele fez.

A cada momento nossa concepção pré-fabricada de beleza passa por tranformações. Por conta dos milhões de norte-americanos obesos, viciados em fast-food, estar um pouco acima do peso, porém completamente saudável, virou uma coisa condenável. Infelizmente grande parte do mundo se baseia nessa cultura dominante e as gêmeas Olsen e a Ally McBeal acabam virando parâmetro para as meninas de hoje.

A beleza já foi estudada e é considerada uma ciência. Em rasas palavras, quanto mais simétrica for a pessoa, mais bela ela é considerada pela grande maioria dos espectadores. Por isso aqueles atores que todos consideram belezas unânimes fazem tanto sucesso. É comprovado que a beleza facilita a vida das pessoas e abre muitas portas, pessoal ou profissionalmente. Todos gostamos de observar um belo rosto. É mais agradável conviver com pessoas bonitas. E não sou eu que estou afirmando isso, é a Nancy Ettcoff em seu livro A Ciência da Beleza. Recomendo a leitura.

Se você é belo ou não, gordo ou magro, com ou sem plástica, o importante é estar feliz consigo. Viver uma vida plena, com as rugas, os desafios e as tristezas que todos devemos passar. Mesmo que elas estejam escondidas debaixo do tapete ou, no caso, debaixo do botox.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

No Alarms And No Surprises

Não é o máximo quando a gente conhece alguém novo? As primeiras conversas são sempre o máximo, você começa a descobrir quem é aquela pessoa na sua frente. E a cada palavra, uma pecinha do quebra-cabeça vai se encaixando. E você vai criando uma imagem idealizada, praticamente perfeita e começa a acreditar que aquela é a tampa da sua panela, a metade da sua laranja e tantas outras expressões de cunho popular que não caberia aqui.

E o melhor é quando vocês têm tudo em comum. “Não acredito que você também adora a versão de Sweet Jane do Cowboy Junkies!”. “Claro. É bem melhor que a do Velvet”. E por aí vai. Quando você menos espera, já estão um completando as frases do outro. E, enquanto o romance vai florescendo, as músicas vão se encaixando. De mansinho. Durante o primeiro beijo, estava tocando Angie, dos Stones. Durante a primeira transa, Morrissey dizia que There’s a Light That Never Goes Out. Durante o primeiro eu te amo, Radiohead, No Surprises.

A vida fica tão bonita quando a gente tem música para todos os momentos. E eu, que sempre fui fã dos bons e velhos cds, adorava montar a trilha sonora da minha vida. Muito antes da Kiss FM usar o bordão. Ou sequer existir. Uma pitada de New Order, True Faith, seguida de My Sacrifice, do Creed. É bom deixar bem claro que quando você está apaixonado, perde um pouco do discernimento e acaba ouvindo coisas como Creed. Mas, felizmente, isso passa.

Como nem tudo são flores, um dia você descobre que aquela metade da laranja estava azeda. E que o que seja eterno enquanto dure é verdade. Aí vem a parte chata, dividir os bens. E pra lembrar quem comprou que cd? Sem contar aquele que você sabe que não é seu, mas vai fazer a maior falta. Se eu fosse catalogar todos os cds que eu perdi ao longos dos anos, dava pra montar uma loja. Alguns eu sinto falta até hoje. Como a trilha sonora do Assassinos por Natureza, do Romeu e Julieta, o primeiro do Live. Não que eu não os tenha recuperado. Pra isso serve o emule. Mas eu acho super legal ter a caixinha, o encarte.

Eu sou da época que comprar um cd era um evento. Você esperava ansiosamente o lançamento. Ia até a Galeria do Rock, encontrava os amigos, colocava a conversa em dia e via tudo o que tinha de novo. E voltava pra casa feliz com sua nova aquisição. E aí era só colocar no aparelho som e acompanhar as músicas lendo o encarte. Como eu sinto falta dos encartes. Alguns eram tão bacanas. Cheio de fotos e com as letras das músicas.

Hoje em dia isso não faz mais sentido. Eu não tenho o costume de gravar minhas músicas em cd, afinal só escuto no computador. Mas continuo com a mania de montar trilhas sonoras. Afinal, músicas me lembram pessoas e pessoas me lembram músicas. E nada mais legal que ouvir aquela música e lembrar de alguém querido...

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

I Still Haven't Found (What I'm Looking For)

Tô em crise. Musical. É sério. Abro meu i-tunes e não tenho mais vontade de ouvir nada. E olha que eu tenho bastante diversidade. Dá pra ouvir mais de um dia sem repetir. Isso porque eu fiz uma faxina essa semana, porque já tava quase nos 10 giga. E mesmo assim não consigo ouvir nada. Começo alguma coisa, enjôo, fico inquieta e mudo. E vou fazendo isso o dia inteiro. Nesse momento estou no mais completo silêncio. E me sentindo muito à vontade. Acho que estou perdendo meu poder de decisão. Ou ficando surda.

Atualmente só algumas poucas bandas têm preenchido esse meu vazio. Nos momentos mais eufóricos, eu passo o dia ouvindo Killola. Nos mais animadinhos e dançantes, Daft Punk e nos mais introspectivos, Air. E é só isso. Pode olhar no meu perfil da lastfm. Nem o truque de colocar no party shuffle tem me ajudado. Eu vou lá e mudo. E mudo. E mudo. Até os Beatles têm me dado nos nervos. Nem o bom e velho Frank Sinatra tem cumprido seu papel. E coitado do Elvis, faz tempo que ele não consegue falar um “thank you, thank you very much” por aqui.

E pra piorar essa frustração, passo o dia procurando coisas novas no myspace. Até achei coisas bem interessantes, mas nada que me desse aquela sensação de uma adolescente vendo o Menudo pela primeira vez. Pra quem não é desse tempo, pode substituir pela sua boy band preferida, New Kids On The Block, N-Sync, Backstreet Boys... se alguém falar Jonas Brothers apanha. Porque esse blog deveria ser para maiores. E se você é maior e ouve Jonas Brothers deveria apanhar em dobro.

E me fala o que é esse disco novo do David Cook? Eu passei a temporada inteira do American Idol torcendo por ele, chorei quando ele ganhou, sou membro de todos os fã clubes virtuais possíveis, sou até amiga de myspace do irmão dele. Essa semana eu recebi um teaser do disco novo. Como diria o querido Ianni, “apaputaquepariu”!!! Emo ninguém merece, nem os próprios emos! Até o olho pintado de preto o corno tá usando! A voz dele continua maravilhosa, mas eu vou continuar ouvindo as apresentações do Idol.

E aqui eu deixo meu apelo. Se alguém tiver uma sugestão de uma banda muito boa, que vai rock my world, entre em contato. E como eu sou bem legal, e gosto de ajudar os amigos, quem quiser conhecer a banda Killola, é só entrar no site www.killola.com e baixar o disco deles de graça. E não, eu não estou ganhando nada pra isso.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Onde o Rock Errou?

Sabe o que eu não consigo entender? Como alguém consegue mudar de opinião tão radicalmente com relação à música? Por exemplo, imagina que você passou anos gostando de chocolate ao leite. De repente, um dia, você não gosta mais. E acha que só o chocolate meio amargo é bom. Eu entendo que a gente enjoa das coisas. Eu sou sagitariana e fico entediada com as coisas em cinco minutos. Mudo de opinião como mudo de roupa. Mas, chocolate é chocolate. E música boa, é música boa.

Mais uma vez a culpa é do orkut. Preciso sair desse negócio, a Flávia tem razão, é coisa do demônio. E dessa vez eu nem estava fuçando, simplesmente apareceu na minha cara. Sabe aquela coluna das atualizações dos seus amigos? Então, tava lá que uma amiga minha tinha colocado fotos novas. Não vou dar nomes aos bois, nem adianta. Se quiser tentar descobrir, procure você mesmo. E eu fui olhar as fotos da moça. Primeiro, um auto-retrato com a camiseta do CPM22. Depois de me recuperar do quase infarto, continuei. Ela e as amigas num show de pagode. Parece normal pra você? Pois pra mim não é normal alguém que passou a adolescência inteira vestindo preto, mesmo que num calor de 40 graus, e gastando a mesada inteira com discos de metal, estivesse parecendo a Fergie do terceiro mundo.

Não que ela deveria continuar se vestindo com camisetas de bandas, isso é só para iniciados, mas renegar o passado assim? Achar que CPM22 é rock? Não, tá tudo errado! Mas eu até perdoaria o CPM se não fosse o show de pagode. Aí pegou pesado demais. Isso não é enjoar de chocolate, é comer cocô achando que é chocolate. Tudo bem, posso até estar sendo muito radical, afinal já é madrugada e eu não consigo dormir. Mas se alguém entende, por favor me explica.

Mas isso não é tudo! Um pouco mais abaixo, uma outra amiga, que frequentou muito show de rock comigo, tinha acabado de subir um vídeo. Banda Eva. Gente, só pode ser pegadinha. Eu ainda estou esperando o Sergio Mallandro pular do meu lado gritando um “Rá!”. Porque só assim eu vou conseguir entender. Eu adoro música trash, Magal, Gretchen, Trio Los Angeles, Jessé. Rolo de rir com isso. Adoro cantar “Evidências” no karaokê. Sempre escuto música romântica antiga, daquelas Alpha FM, afinal é um toque de classe no seu rádio. Mas não consigo viver sem o bom e velho rock and roll. Até aceito você ficar mais light depois de velho. Eu também não tenho mais a menor paciência pra Sepultura, mas tudo tem limite.

Agregar novos valores, tudo bem. Eu também agreguei jazz, blues, motown. Mas nunca reneguei meu passado. Inclusive assumi publicamente que sim, gostei de Guns’n’Roses. E mais, gostei e fui no show do Bon Jovi. E Rosana, cantando como uma deusa, é impagável. Mas eu nunca colocaria no orkut uma foto minha com a camiseta do NX Zero. Nem de brincadeira. Apesar de eu escutar Maroon 5 sozinha, escondida e no escuro.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Can't Buy Me Love

Eu amo rock and roll. Nasci ouvindo Beatles. Lembro que quando eu era criança, ganhei um desses tecladinhos vagabundos do Paraguai, porque na minha infância as coisas não eram “made in Taiwan”, mas sim dos sacoleiros que pegavam o ônibus na sexta à tarde pra cruzar a Ponte da Amizade e voltar no domingo cheios de canetinhas com 10 cores e cheiros, estojinhos com mil repartições e porcarias eletrônicas, assim como meu tecladinho. E ele era o máximo, não por causa das luzinhas verdes e vermelhas que acendiam te guiando pelas notas, mas porque ele vinha com duas músicas pré-programadas, “Ob-La-Di, Ob-La-Da” e “Michelle”, que me acompanharam durante muitos anos, assim como “Twist and Shout”, que eu sempre adorei cantar e dançar.

Mas criança sempre gosta das mesmas músicas que os pais, além da Xuxa, do Balão Mágico e da Mara Maravilha. E o momento crucial é a chegada da adolescência, onde você decide o que vai ser da vida. E você pensando que isso era tarefa da faculdade, né? Imagina! É na adolescência que você vai ser rotulado, que você vai ganhar aquele apelido que vai te acompanhar por anos e que você vai se encaixar em algum grupo. E é na adolescência que você começa a moldar seu repertório musical. Eu lembro ter flertado um pouco com o chamado “house”, que não parece em nada com o putz-putz que as danceterias promovem hoje. Mas sim um eletrônico mequetrefe, com raiz nas músicas ruins da década de 80. Hoje é chamado de “flash house” e eu ainda me divirto lembrando do Bomb the Bass, Sigue Sigue Sputinik, Kon Kan, C&C Music Factory e tantos outros menos famosos.

Mas isso durou bem pouco. Porque um dia eu escutei a música que mudaria por completo o rumo da minha vida. Guitarras distorcidas e uma voz aguda, mas ao mesmo tempo rouca, okay, esganiçada. É isso mesmo que você pensou. Guns’n’Roses. No auge de seu primeiro sucesso, “Sweet Child O’Mine”. Uma semana depois eu já teria decorado todas as músicas do “Appetite for Destruction”. E, a partir desse momento, I gave my soul to rock and roll. Por completo. Gostei de hard rock, heavy metal, hair metal, de bandas tão variadas como Megadeth e Extreme. Nas paredes do meu quarto, cabeludos e mais cabeludos. E eu não tinha aquela história de rixa entre bandas. Gostava tanto de Guns quanto de Skid Row. Aliás, Sebastian Bach era minha religião. E vê-lo em Gilmore Girls é uma das coisas mais cômicas dos últimos tempos.


O tempo vai passando e nosso gosto refinando. Passei por várias fases musicais que ainda serão motivos de entretenimento por aqui, pois renderam muitas histórias e memórias. Mas como já disse Elis Regina – não, eu não gosto de MPB, mas a música se encaixa – “ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”. E enquanto essas palavras são escritas, John, Paul, George e Ringo continuam à toda. Não mais naquele velho vinil que ainda está na estante, mas em versão mp3. With love, from me to you.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Brian

Acho muito engraçado o jeito que a gente faz amizades. E como a gente cria laços com as pessoas. Sempre me lembro de um episódio do Seinfeld que ele dizia que não era mais criança para fazer novos amigos tão facilmente, porque quando você é criança, um pergunta pro outro, “você gosta de bala?”, “eu também”, “somos os melhores amigos”. E a vida adulta não é bem assim. Pra ele. Eu continuo gostando de bala.


Até concordo que uma amizade bacana não é fácil mesmo. Eu mesma sempre digo que as amizades não são eternas, mas uma boa companhia é essencial. Gosto dessa frase, e gosto mais ainda das boas companhias. Tenho amigos, queridos e próximos, há mais de quinze anos. E claro que quero que seja eterno. Mas só se for legal de verdade. A partir do momento que as coisas não estão funcionando bem, é melhor deixar pra lá. Como tudo na vida.


Descobri que o 2.0 não está matando a minha vida social, mas sim globalizando. Os tempos mudaram e a tecnologia te permite tomar uma cerveja com qualquer pessoa do mundo em tempo real. E olhando pra cara dela, através de uma web cam. E foi numa dessas pesquisas sociais que eu conheci o Brian. Que no começo não era Brian, era ottoparts e eu não era Rita, era rad.


Brian estava calmamente sentado em seu escritório, trabalhando e sendo visto pelo mundo. Ainda não entendi como um virginiano pode ser tão tranqüilo com exposição pública, mas lá estava ele. Tranqüilo, trabalhando e com as costeletas mais radicais do mundo virtual. Irresistível. Não tinha como não elogiar. E assim eu conheci o Brian. Que mora em Denver, no Colorado, perto do hotel que foi filmado O Iluminado. É casado com a Aileen, que é veterinária e tem um cachorro e um gato.


E apesar de estarmos em continentes diferentes, falarmos línguas diferentes, lá ser outono e aqui primavera, e lidarmos com um fuso horário maluco, com uma janela de quatro horas (quando aqui é meio-dia, lá é oito da manhã), a gente tem conseguido se comunicar. E tem descoberto que temos mais coisas em comum que muita gente que eu vejo todo dia. Pessoalmente, claro. Porque eu também vejo o Brian, pixelizado, mas é ele. E a gente fala da vida e ouve música junto. E briga por causa de baseball. E compartilha fotos e sonhos. E dá muita risada.


É possível que isso dure um mês ou dois. É possível que cada um mude seu ritmo de vida e a gente passe a trocar e-mails esparsos só pra constar. É possível que a gente descubra que não tem mais nada pra falar e fique apenas naqueles silêncios constrangedores. Mas, quantas vezes isso já não aconteceu na vida real? E o pior é que você tem que ficar mirabolando planos para não encontrar mais aquela pessoa. Aqui, é só desligar o msn. E mesmo que isso aconteça, o Brian já marcou um ponto. Já virou um conto.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Bianca

Ontem à noite eu fiz a maior estupidez da minha vida. Perdi meia hora assistindo aquela novela da Record, aquela dos mutantes. Jesus! Eu quero minha meia hora de volta! Acho que eu nunca vi nada tão péssimo. Até os efeitos especiais do aerolito do Chaves eram melhores. Pelo menos era mais divertido de assistir.


E eu não me conformo como a grande maioria dos atores brasileiros de tevê são ruins. É uma coleção de cigano Igor, que quem é bom parece que fica com medo de atuar direito. Calma, não me crucifiquem, estou falando dessa novela, por enquanto. Você consegue imaginar uma novela que o ator mais convincente é o Taumaturgo Ferreira? E por que tudo tem que ser muito bem explicadinho, nos mínimos detalhes? Se a menina está com medo, não deveria ter uma voz em off, como se fosse o pensamento dela, dizendo “eu estou ficando com medo”. Atue, criatura! Essa é a sua profissão! Mostre pra gente que você está com medo!


Tudo bem, vocês vão falar que a televisão não é parâmetro, que os bons atores estão no teatro e tal. É, mais ou menos. Vamos combinar que quem nasceu pra coisa, vai ser bom em qualquer mídia. E quem não... Isso na Globo, em Hollywood, Bollywood, cinema noir e o escambau. Adoro o seriado Gilmore Girls, confesso meu guilty pleasure, mas aquela menina que fez a Rory é de doer! O roteiro era fantástico e a Lauren Graham roubava as cenas, então valia a pena. E quem consegue ver a Sarah Michelle Gellar, aquela da Buffy? E o Freddie Prinze Jr.? Eu assisto as coisas que ele faz porque acho ele fofo, aliás eles são um casal. Perfeito, não?


Mas pior mesmo que falta de expressão é aquele povo que vive atuando. Cada gesto, cada passo, cada palavra é uma epopéia. Cada movimento parece ter sido ensaiado e saído de um seriado ruim. A Bianca é assim. Não posso dizer que ela é minha amiga porque a gente nunca chegou a tanto. Na verdade ela é amiga da Vanessa, essa sim é uma querida. Mas a Vanessa é outro conto.


A Bianca conta pra todo mundo que nasceu no palco. Quase que literalmente. Sua mãe também é atriz e estava no meio da peça quando a sua bolsa estourou. Mas ela não parou. Tudo pela arte. Agüentou firme os dez minutos que faltavam para acabar a peça. Só então foi para o hospital e Bianca nasceu. Miudinha, mas seu choro ecoava pelos quatro cantos. Já nasceu drama queen.


E desde então Bianca não vive, ela atua. Quando criança era aquela mimadinha que se não conseguia tudo o que queria se jogava no chão e chorava, fazendo aquele escândalo, pra todo mundo ver. Sua mãe nunca lhe reprimiu. “Ela tem que aprender a fazer suas escolhas errando”. Sempre liderava as brincadeiras e distribuía o papel de cada um, mas adivinha de quem era o principal?


Naturalmente Bianca cresceu e virou atriz. Não podia ser diferente. O único problema é que ela é péssima. Não sou treinada pra ser crítica teatral, aliás não entendo muita coisa, mas sei do que eu gosto. Tenho um nível cultural aceitável para poder opinar sobre algumas coisinhas. E ela é péssima. Essa semana estreou a nova peça dela. Não somos amigas, mas sempre recebo um e-mail com convite. Ficando em casa eu pelo menos posso mudar de canal e assistir o Heroes original ou até mesmo uma reprise do X-Men. Estou preferindo até Power Rangers ou o aerolito do Chaves.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Vivi e Paulinho

Acabei de receber um convite para uma festa de Halloween. Vai ser na casa da Vivi e do Paulinho na sexta-feira dia 31. Fantasias obrigatórias, favor colaborar com as bebidas, maratona de filmes de terror. Convitinho bacana, bem feito, design legal, me deu até vontade de ir, de tirar aquela velha capa de vampira do armário. E encarar a 25 de março atrás de uma dentadura nova.

A Vivi e o Paulinho sempre curtiram essa história de vampiro, de ser gótico, usar preto. Já namoraram no cemitério, fizeram reuniões para evocar os espíritos e gastam a maior grana com brinquedinhos do mal. Acho super bacana, principalmente porque eles sempre foram fiéis a essa identidade. Nunca tentaram mudar e nunca se importaram com a opinião alheia. A casa deles é ótima, paredes pretas, paredes vermelhas, paredes brancas com teias de aranha pintadas. Muitas caveiras, muitas abóboras, um pôster maravilhoso do “Estranho Mundo de Jack”, que eu sempre quis um igual. Isso é no dia a dia, imagina a decoração pra festa.

Lembro de uma vez que eles brigaram feio. A Vivi ficou puta porque o Paulinho tinha beijado outra menina no show do Marilyn Manson, que ela não pôde ir porque estava trabalhando. Arrumou a mala e foi pra Londres (pra onde mais ela iria, não?) ficar na casa de uns amigos. Acho que eu nunca vi o Paulinho tão desesperado na vida. Ligava quase todo dia, mas ela não queria falar com ele de jeito nenhum. Conseguiu uma licença do trabalho e foi atrás dela uma semana depois.

Achei que esse namoro ia pro vinagre quando recebi a notícia pela Roberta. “Sabia que a Vivi e o Paulinho voltaram? Resolveram morar lá em Londres por uns tempos”. E “uns tempos” significou três anos. A gente se falava quase toda noite pelo ICQ e a Vivi me disse que resolveu perdoar o Paulinho porque assim que ela chegou lá, sozinha, deprimida e sem um pound no bolso, acabou ficando com o Mike, um conhecido nosso que tinha vindo ao Brasil pra passear um ano antes. Perdoou por culpa.

Mas se o tempo não apaga as marcas, pelo menos ameniza. E a Vivi e o Paulinho nunca mais se separaram depois dessa empreitada internacional. Quando voltaram pro Brasil, trouxeram vários presentes pros amigos. Eu ganhei um batom preto. Que eu tenho até hoje. Praticamente intacto porque eu só uso uma vez por ano, na festa de Halloween deles, no sobradinho do Butantã. E eu que queria tanto o pôster do “Estranho Mundo de Jack”.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Junior

Estava eu fuçando a vida alheia pelo orkut, quando tive uma vontade incontrolável de dar uma espiadinha no perfil do Junior. Ele foi “tipo meu namoradinho” na época do cursinho. Na verdade a gente nunca namorou, mas a expressão “fuck buddy” tem uma tradução muito feia. Passamos o ano de 94 inteiro “se pegando”. Se eu brigava com algum pretê, ligava pra ele. Se ele tava se sentindo solitário, me ligava. O mais legal é que a gente também conversava, ia ao cinema, jantava, tomava cerveja, mas só os amigos mais próximos sabiam o que rolava entre a gente. Era meio segredinho, o que tornava tudo mais gostoso.

E hoje, sabe-se lá por quê, eu lembrei do Junior e quis saber como ele estava. Primeiro fiquei chocada ao saber que ele virou advogado. Sabe aqueles meninos meio hippies fefeléche? Esse era o Junior. Petista, mas nascido e criado no leite A. Cabelão, mas bem lavado e cheiroso. Sandália de couro, mas Birkenstock. Achava que ia mudar o mundo e eu adorava sua inocência porque eu realmente acreditava que ele era capaz. E me deixava levar por aqueles olhos verdes enquanto ele enchia meu copo de cerveja e acendia mais um cigarro.

Lembro uma noite que a gente foi parar numa “festa estranha com gente esquisita” no apartamento de um menino da biológicas. Eu só queria tomar uma cerveja e ter alguém pra dormir abraçada, mas ele insistiu. “Vamos lá, o cara é bacana. A gente toma uma e vai embora”. E mais uma vez eu me deixei levar pelo sorriso manso e os olhos verdes. Quando a gente chegou na porta do prédio, na Vila Madalena, eu pressenti que aquilo não ia acabar bem. Mas a gente já tava lá, né?

Entramos. A cena era a seguinte: cinco rapazes numa sala totalmente encoberta por uma nuvem de maconha, rodeados por 467 latas de cerveja vazias ouvindo Judas Priest no último. Momento de pânico. “Que porra é essa?”, perguntei baixinho pro Junior, mas ele já estava cumprimentando os rapazes e acendendo uma ponta. Virei na direção do elevador, mas lembrei que o carro era dele e eu não tinha como voltar pra casa. E que, como eu ia dormir na casa dele, já tinha deixado minhas coisas por lá. Mais um momento de pânico.

Abanei a cabeça murmurando um oi e sentei numa cadeira no canto. A cerveja gelada tinha acabado, eu tinha três Marlboros no maço e era a única menina entre arrotos e um pornô tosco na tevê. Três horas depois, três Marlboros depois, duas latinhas de Skol quentes depois, e cinco repeats no CD “Painkiller” depois, o Junior achou que já era tarde e nós fomos embora. Naquela noite eu disse que estava com uma dor de cabeça terrível por causa da cerveja quente. E foi a última vez que a gente se viu.

Hoje descobri que além de advogado, o Junior ficou careca, engordou o suficiente para acabar com qualquer fantasia sobre homens de terno que você possa ter, está separado e tem duas filhas. Ah, e faz parte da comunidade “Eu admiro o Opus Dei”, “Eu amo armas de fogo” e, claro, “My son’ll listen Judas Priest!”.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Roberta

Ontem à noite a Roberta me ligou. A gente não se falava há meses. A Roberta é aquelas amigas que a gente faz por acaso, na fila do cinema. Mais precisamente na fila do anexo do Unibanco pra ver Gabeh, filme iraniano, isso por volta de 1997. Eu já tinha comprado dois ingressos, esperando a Patrícia chegar, em cima da hora como sempre, e não conseguia parar de olhar pra porta do cinema. O filme estava sendo super comentado, então a fila estava grande e já não tinha mais ingresso, afinal era a última sessão de quarta-feira e todo mundo queria pagar meia entrada.

Enquanto eu estava distraída, xingando até a décima quinta geração da Patrícia, porque naquela época a gente não tinha celular, então tinha que marcar o encontro do telefone de casa, ir pro lugar marcado e esperar, alguém encostou a mão no meu braço e disse oi. Voltei pra realidade num tombo. Não gosto de ser tocada por quem eu não conheço, tenho “povofobia”, mas com a Roberta é assim. Ela só fala com você olhando no olho e segurando seu braço, sua mão, tirando o cabelo da sua cara, fazendo um carinho. Mas naquele momento eu não sabia quem era a Roberta e fiquei muito irritada.

“Você tá esperando alguém, né?”, ela me perguntou. “Tô. E ela tá atrasada, como sempre”, respondi. “Eu não consegui comprar ingresso. Se sua amiga não vier, você me vende o dela?”. E foi assim que Roberta caiu na minha vida. Nos apresentamos, ficamos conversando na fila, sentamos juntas e fomos tomar um lanche depois do filme, lá no Frevo. Ela era encantadora, doce, inteligente. Uma ótima aquisição para o rol das amizades. Saímos juntas várias vezes para dançar, beber e jogar conversa fora, durante anos. Agora a gente se vê muito pouco. A vida muda e as responsabilidades nos levam para outros caminhos. Mas ontem ela me ligou.

Depois das amenidades de “que saudade” e “como tá a vida”, veio o convite. “Vamos na Mostra amanhã?”. Fiquei em transe por alguns segundos, tico e teco enlouquecidos, tentando entender o que ela tinha me falado. Mostra? Putz! Tá tendo Mostra Internacional de Cinema. Respondi que não sabia, fazia tanto tempo que eu não ia ao cinema. E ela, “eu também, tem umas três semanas que não vejo nada, estou morrendo!”. Três semanas? Como eu conto pra essa criatura que eu não vou ao cinema há cinco anos, pelo menos? “Ver o que?”, respondi pra ganhar tempo e pensar numa boa desculpa. E aí Roberta desatou a falar do tal filme “The Photograph”, que é sobre um fotógrafo e uma menina que vira sua pupila, que ela não conseguiu pensar em ninguém que fosse gostar desse filme mais do que eu, e que estava passando no Unibanco. “Tenho que resolver algumas coisas, mas te ligo amanhã pra confirmar, okay?”.

Fato número 1: eu não vou cinema há cinco anos, pelo menos, porque a cada ano que passa, eu fico mais parecida com o Jack Nicholson no “Melhor é Impossível”, já até admiti que eu tenho TOC. O cinema pode estar vazio, o primeiro casal que entrar, vai sentar atrás de mim e falar o filme inteiro. Ou então, vão sentar na minha frente e ficar se amassando o filme inteiro. De uma forma ou de outra, eu não vou conseguir me concentrar, ficar irritada e me arrepender de não ter esperado sair em DVD.

Fato número 2: dez anos se passaram desde que eu freqüentava o Unibanco. Agora eu estou mais velha, mais chata, menos paciente com pessoas pseudo-intelectuais que vão ao cinema com um livro do Karl Marx debaixo do braço. Ah, vermelho? Só na bota e no batom, não na política.

Fato número 3: o último filme que vi numa Mostra foi “Corra, Lola, Corra”, ainda no século 20.

Fato número 4: o filme que a Roberta quer ver parece ter um enredo interessante e eu realmente posso gostar. Mas ele é indonésio. Não que eu só veja filmes hollywoodianos, mas se nada acontece em mais de cinco minutos de filme, eu durmo. Logo depois que a Roberta desligou vi que estava passando “Sonhos”, do Akira Kurosawa na TV a cabo e pensei que seria um bom estímulo pra eu ver um filme de arte. Passei pela infância com muito custo, mas não sobrevivi às memórias da guerra. Dormi durante todos os outros seis capítulos.

Acabei de ligar pra ela inventando uma reunião com cliente, e fiquei devendo uma cerveja. Vou passar a noite vendo o sexto episódio da terceira temporada de Heroes, que eu baixei essa madrugada. O 2.0 está matando minha vida social...

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Rafael e Fernanda

Rafael e Fernanda se conheceram no final da década de 90 no Borracharia. Se você não possui essa memória, o Borracharia era um barzinho bem legal, lá na Vila Madalena, onde o pessoal “indie” da época se encontrava. Lá você podia sentar nas mesinhas do lado de fora, bem na entrada, e discutir sobre o último episódio de Friends, encostar no balcão e pedir pro Tchelo (que ainda era garçom) uma Niger, (que a Antártica ainda fabricava) ou podia subir as escadas e dançar ao som de “There’s No Other Way” do Blur ou “Hyperballad” da Bjork.

De qualquer forma, Rafael e Fernanda se conheceram lá. Culpa do Adriano, amigo em comum, que resolveu chamar todo mundo pra uma festa de aniversário. Logo que foram apresentados, Fernanda não foi muito com a cara dele. Rafael era moreno, ela gostava de loiros. Rafael era descendente de nordestinos, ela queria morar em Londres. Rafael não falava inglês, ela achava isso inadmissível na nossa sociedade cada vez mais globalizada. Rafael era menino, ela achava que talvez fosse lésbica.

Rafael também não demonstrou o menor interesse por Fernanda. Na verdade, eu me lembro que ele usou as palavras “metida a gringa” e “se acha muito moderna” para descrevê-la. Apesar de ter ficado um pouco curioso sobre onde terminaria a tatuagem de dragão que ele via começando no ombro e descendo pelas costas. E pelos olhos azuis na pele branca, contrastando com o cabelo curto e preto. Okay, Rafael não demonstrou o menor interesse pela cabeça de Fernanda, mas definitivamente não a chutaria da cama.

Já passava das três da manhã quando eles se esbarraram na pista de dança. Ela estava super agitada, com seu drink azul na mão (alguma coisa feita à base de blue curaçao que ela passaria a manhã seguinte a vomitar), tentando paquerar aquela menina “super fofa, que parecia uma bonequinha”, amiga de alguém e que estava sozinha porque a namorada tinha ido pra Londres. Aliás, é impressionante como todo mundo ia pra Londres nessa época. Ele só tinha tomado cerveja, praticamente todas, e já não conseguia ver nada em foco. A não ser aquele par de olhos azuis, com a bebida azul.

Quando Fernanda reparou em Rafael e seus olhos se encontraram, o dj colocou Eurythmics, “There’s Must Be An Angel”. Dadarudadarurá, dada, dada... Fernanda descreve a cena como “butterflies in my stomach”. Rafael não consegue lembrar de nada, só do gosto da boca dela, do cheiro do seu cabelo. Cena de filme, todas as pessoas haviam desaparecido e durante os quatro minutos e quarenta e três segundos da voz da Annie Lennox eles dançaram, beijaram e se apaixonaram. Naquele momento Fernanda não queria estar em Londres, Rafael não se importava com a prepotência dela. Tudo o que importava era que aquela música nunca acabasse, e que talvez tivesse um anjo brincando com corações.

Hoje, Fernanda e Rafael moram num apartamento super bacana nas Pedizes, mas esse ano não vão passar as festas em Londres, já que depois de dez anos juntos, eles decidiram ser três. E Annie pode nascer a qualquer momento...