terça-feira, 21 de outubro de 2008

Rafael e Fernanda

Rafael e Fernanda se conheceram no final da década de 90 no Borracharia. Se você não possui essa memória, o Borracharia era um barzinho bem legal, lá na Vila Madalena, onde o pessoal “indie” da época se encontrava. Lá você podia sentar nas mesinhas do lado de fora, bem na entrada, e discutir sobre o último episódio de Friends, encostar no balcão e pedir pro Tchelo (que ainda era garçom) uma Niger, (que a Antártica ainda fabricava) ou podia subir as escadas e dançar ao som de “There’s No Other Way” do Blur ou “Hyperballad” da Bjork.

De qualquer forma, Rafael e Fernanda se conheceram lá. Culpa do Adriano, amigo em comum, que resolveu chamar todo mundo pra uma festa de aniversário. Logo que foram apresentados, Fernanda não foi muito com a cara dele. Rafael era moreno, ela gostava de loiros. Rafael era descendente de nordestinos, ela queria morar em Londres. Rafael não falava inglês, ela achava isso inadmissível na nossa sociedade cada vez mais globalizada. Rafael era menino, ela achava que talvez fosse lésbica.

Rafael também não demonstrou o menor interesse por Fernanda. Na verdade, eu me lembro que ele usou as palavras “metida a gringa” e “se acha muito moderna” para descrevê-la. Apesar de ter ficado um pouco curioso sobre onde terminaria a tatuagem de dragão que ele via começando no ombro e descendo pelas costas. E pelos olhos azuis na pele branca, contrastando com o cabelo curto e preto. Okay, Rafael não demonstrou o menor interesse pela cabeça de Fernanda, mas definitivamente não a chutaria da cama.

Já passava das três da manhã quando eles se esbarraram na pista de dança. Ela estava super agitada, com seu drink azul na mão (alguma coisa feita à base de blue curaçao que ela passaria a manhã seguinte a vomitar), tentando paquerar aquela menina “super fofa, que parecia uma bonequinha”, amiga de alguém e que estava sozinha porque a namorada tinha ido pra Londres. Aliás, é impressionante como todo mundo ia pra Londres nessa época. Ele só tinha tomado cerveja, praticamente todas, e já não conseguia ver nada em foco. A não ser aquele par de olhos azuis, com a bebida azul.

Quando Fernanda reparou em Rafael e seus olhos se encontraram, o dj colocou Eurythmics, “There’s Must Be An Angel”. Dadarudadarurá, dada, dada... Fernanda descreve a cena como “butterflies in my stomach”. Rafael não consegue lembrar de nada, só do gosto da boca dela, do cheiro do seu cabelo. Cena de filme, todas as pessoas haviam desaparecido e durante os quatro minutos e quarenta e três segundos da voz da Annie Lennox eles dançaram, beijaram e se apaixonaram. Naquele momento Fernanda não queria estar em Londres, Rafael não se importava com a prepotência dela. Tudo o que importava era que aquela música nunca acabasse, e que talvez tivesse um anjo brincando com corações.

Hoje, Fernanda e Rafael moram num apartamento super bacana nas Pedizes, mas esse ano não vão passar as festas em Londres, já que depois de dez anos juntos, eles decidiram ser três. E Annie pode nascer a qualquer momento...

Um comentário:

Fábio Bito Caraciolo disse...

Olha que essa história dá música, hein? eheheh
keep blogging! beijão!